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Nacionalismo galego
Entre o pós-nacional e o Volksgeist
Nación, o último filme de Margarita Ledo, começa com umha grande intensidade. Na apertura, umhas imagens de arquivo de umha filmaçom caseira. Vê-se gente num jogo de futebol amador no monte, talvez num monte comunal, mas a atmosfera é estranha, desconcertante. Nem parece umha simples romaria nem tampouco nada nos explica o que estamos a ver. E entom, fugaz, umha estreleira atravessa o ecrám. Agora dás-te conta de que as futebolistas som mulheres e de que as pessoas que se arremoínham por volta do terreno de jogo a olhar, som os homens e crianças. Racha-se a doxa. A imagem, poderosa, lembra inevitavelmente o jogo de hurling do início do The Wind That Shakes the Barley de Ken Loach, mas aqui, a naçom som as mulheres.
O tsunâmi feminista da última década tivo a sua réplica teórica mais importante no soberanismo galego no ensaio de Helena Miguélez-Carballeira Galiza, um povo sentimental?, que revelou com veemência as costuras da lógica nacional-patriarcal com o que se foi construindo o discurso nacionalista galego desde o século XIX. E é neste sentido que podemos ler Nación como um valioso intento de refundaçom do discurso nacionalista galego em parâmetros feministas. O magnífico cartaz-manifesto do filme, assim como a própria micro-história do título: umha trabalhadora que depois de relembrar a sua luita exclama um “tardamos-che bem em ser naçom!”, também agoirava umha apertura na conceçom da naçom: da essência ao processo, do repregue identitário defensivo ao empoderamento coletivo expansivo.
Podemos ler ‘Nación’ como um valioso intento de refundaçom do discurso nacionalista galego em parâmetros feministas
Entre um terreno mui heterogéneo, composto de performances, elementos alegóricos, digressons poéticas, etc., atravessa o filme um poderoso rio principal, que é o da história do acesso das mulheres da ria de Vigo, através da fábrica da Pontesa desde os anos 1960, a isso que Robert Castel chamava a “condiçom salarial”, passa-porte à plena cidadania que metaforiza à perfeiçom o carro Dyane 6 da imensa Nieves Lusquiños: a autonomia económica, a independência de movimentos, a camaradagem e os gintonics de depois do trabalho… As autofilmaçons obreiras no decurso das greves, mostram umhas trabalhadoras que se fam cargo da situaçom, tanto na sua dimensom organizativa quanto expressiva, e o arquivo televisivo mostra-as enfrontando-se à polícia com valentia.
Mas da expetaçom inicial do filme, dessa promesa de apertura novidosa do discurso nacionalista, vai-se passando a um repregue à zona de conforto das práticas discursivas já conhecidas. O rio torrencial vai apoçando devagarinho. Ledo nom quer cair no realismo vulgar, no registo minuciosamente histórico do conflito da Pontesa, mas talvez o filme remate vasculando pola perigosa pendente oposta, quando o simbolismo e o alegórico rematam por devorar a história, sobretudo contra o trecho final; e as reticências legítimas ao documentarismo puro (“con la mera entrevista no logras profundidad, todo es un dejà vu” https://www.caimanediciones.es/margarita-ledo-entrevista/) acabam ocultando um difuminado do protagonismo das trabalhadoras da Pontesa que pedia mais.
Atravessa o filme um poderoso rio principal, que é o da história do acesso das mulheres da ria de Vigo, através da fábrica da Pontesa desde os anos 1960, a isso que Robert Castel chamava a “condiçom salarial”
Esta inclusom das peças de interpretaçom, poéticas ou performativas, que visavam condensar o real, encaixam de maneira mui desigual no conjunto do filme. À beleza calma que reproduze e estetiza os processos de trabalho na fábrica ou no poço da rega, à potente poética quotidiana da criança que balbucia umha cantiguinha trabalhista enquanto debulha o milho ou à eletrizante banda sonora de Mercedes Peón, oponhem-se outros elementos muito mais inconexos com o conjunto, e mesmo alguns que produzem umha certa sensaçom de brecha, sobretudo entre o elenco de atrizes profissionais e as trabalhadoras. Brecha que Fichte, pai do nacionalismo alemao, via com pesimismo entre o povo em si, classes populares supostamente inconscientes da sua condiçom de portadoras das essências alemás, e o povo para si, inteletuais mui conscientes das tais essências que, porém, eles próprios já nom encarnavam. Seguramente pola sua origem de neno camponês, Fichte rematava por ter as mesmas dúvidas que Spivak: pode falar o sujeito subalterno sem a mediaçom do inteletual? Do mesmo jeito, a inclusom de um par de piscadelas metaficcionais em que Mónica de Nut se dirige às suas iguais, as espetadoras ideais, fundando umha sorte de cumplicidade fílmica precisamente sobre a exclusom das mulheres da Pontesa. Umha cumplicidade fílmica que nom fai senom acrescentar essa sensaçom de brecha que, na minha opiniom, é o que mais lastra a grande potencialidade de Nación.
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Sempre teño a mesma sensación cos textos de Calvo varela: unha erudición disposta a materializarse nun texto pronto para levar un dez nunha aula de socioloxía.
Polo menos esta vez empregou puntos e aparte pero o vicio que ten coas subordinadas fan que opinión que ben pode ser interesante vire nalgo que non presta nada ler por pura incomodidade.