Opinión
Quem quer ser refugiada linguística?

A Associaçom Galega da Língua (AGAL), a associação histórica do reintegracionismo, tem propostas para um futuro em língua galega e quer fazer parte deste debate.
Manifestación galego Santiago
Manifestación na defensa da lingua en maio de 2024.
Susana Álvarez

Associaçom Galega da Língua (AGAL)

29 oct 2024 05:30

O último estudo publicado pelo IGE sobre conhecimento e uso do galego é pouco esperançoso. Podemos distorcer a leitura dos resultados mas isso pouco pode mascarar uma realidade presente em cada aula ou rua da Galiza. O retrocesso no número de falantes nas faixas de idade mais novas, sobre as que pivota o relevo geracional é alarmante com apenas 16,2% de falantes habituais entre a rapaziada de 5 a 14 anos e 28,2% na faixa dos 16 aos 29 anos. Os dados têm avivado o debate na imprensa e nas redes sociais. As reações incluem análise, críticas cruzadas e reproches ao governo galego pelo incumprimento do Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega de 2004 e o decreto de Plurilinguismo de 2010. A autocrítica é escassa.

Contudo, se tivessem cumprido as medidas na íntegra, seriam outros os resultados? Qual o prognóstico do mesmo inquérito em duas décadas? É assustador. Quem se importa pelo futuro da língua, vive certa consternação e vozes do galeguismo pedem uma virada de rumo para a política linguística deste país. Qual? Eis a questão-chave. No horizonte imediato, fica à frente o estudo dum novo pacto pela língua. Será que seremos capazes de darmo-nos um novo acordo inclusivo que reúna todas as sensibilidades do galeguismo e as nossas potencialidades como comunidade de falantes? A AGAL, a associação histórica do reintegracionismo, tem propostas para um futuro em língua galega e quer fazer parte deste debate.

Falemos a sério. Hoje a mocidade, maioritariamente urbana, não conhece ou não quer usar a língua galega? Os dados do IGE entretecem-se com as mudanças da nossa sociedade nas últimas décadas a nível demográfico, socioeconómico e também político. Para muita rapaziada, nem é a língua familiar nem a dos seus pares, nem permite uma pesquisa acadêmica competente na internet, nem sequer facilita os variadíssimos conteúdos que curtem diariamente nas redes sociais. A mocidade galega maneja a língua que abre as portas dos seus interesses e, infelizmente, o recurso ao castelhano entre nós é uma tendência que, sozinhos no mundo, não podemos mudar nem com o vento a dar na nossa vela. É por isto que urge redefinir o modelo de língua que estamos a oferecer às novas gerações. Um modelo que nos permita acrescentar à tradicional dimensão da identidade, todo o potencial da utilidade pelo mundo aí fora.

Assim sendo, não fará mais sentido oficializar o português padrão na Galiza? Promovermos um contexto de binormativismo funcional, de pleno direito, permitir-lhe-ia às pessoas escolher para o seu galego a grafia da sua preferência: RAG e/ou AGAL. Estamos a falar de liberdade. Este passo facilitar-nos-ia a entrada em contacto com outras variedades da nossa língua, percebermo-nos enquanto falantes duma comunidade internacional, a lusófona, e reforça-nos perante prejuízos, complexos e uma castelhanização imperante. Normalizar esta olhada é oferecer às novas gerações a oportunidade de viverem plenamente em galego em tempo real.

Contudo, é claro que sem o cumprimento de medidas políticas que subvertam a situação crítica que atravessa a língua na Galiza, será impossível. Portanto, acrescentemos, então, à lista das tarefas pendentes a implementação maciça da Lei Valentim Paz-Andrade para o aproveitamento dos vínculos com a lusofonia de 2014, que entre outras propostas pretende a troca de emissões de rádio e de televisão para o reforço linguístico recíproco e, aliás, a generalização do ensino do português na Galiza, tendo como referencial o exemplo da Estremadura espanhola. Estamos a falar de estímulo e conhecimento. A escola é a via para insuflar esta proposta, que como bolha de ar fresco, reforça a autoestima linguística e faz voar mais alto o alumnado galego. No entanto, hoje nos nossos centros de ensino ainda não é possível escolher livremente esta matéria que capacita qualquer pessoa para aprimorar a qualidade do seu falar, depurando castelhanismos, recuperando léxico perdido e tantos traços genuínos. Há já professorado a confirmar que esta é a melhor medida normalizadora que temos na mão. A aposta é clara para quem a experimentar.

Por último, sem relevo geracional nada do anterior fará sentido. Apelar ao identitário pode tocar o coração de algumas famílias. Admitamos, pois, que é irrenunciável para quem assim o sentir. Somos muitas. No entanto, que oferece o galego RAG àquelas que dissociam língua e identidade? Na AGAL pensamos que o identitário e o utilitário não são excludentes e hoje, mais do que nunca, podem ser as aliadas perfeitas para produzir um efeito prestigiador que reative a transmissão familiar, quase perdida no âmbito urbano. Estamos a falar de oportunidade e compromisso social.  O galego entendido como língua internacional também nos singulariza e nos torna muito competitivas num cenário global. Que família convenientemente informada quereria restar oportunidades às suas crianças?

A situação é de emergência, sim, e se os próximos estudos do IGE confirmarem a tendência, constataremos que a nossa língua floresce a sul do Minho e em territórios de vários continentes mas desaparecerá da Galiza. Faremos literal aquilo de “menos mal que nos queda Portugal”. Talvez, chegado o momento, tenhamos que inventar a condição de refugiadas linguísticas. Como dizia Manuel María, o poeta nacional, “o idioma é a chave coa que abrimos o mundo”. É por tudo isto que, o futuro pacto pela língua, devia ser o suficientemente ambicioso como para colocar na mão da sociedade galega, nomeadamente da mocidade, a chave da nossa soberania linguística e cultural. As pessoas querem jogar a ganhar. É humano. Há 40 anos não era o momento. E agora?

Informar de un error
Es necesario tener cuenta y acceder a ella para poder hacer envíos. Regístrate. Entra en tu cuenta.

Relacionadas

Laboral
Laboral Coidar sen dereitos: a loita das traballadoras nas residencias privadas de Galiza
Sen tempo nin medios para ofrecer uns coidados axeitados, alertan dunha situación insostible nos centros e denuncian a privatización dun servizo a costa do benestar das persoas maiores e dependentes.
Medio ambiente
Medio ambiente Máis de 200 colectivos esixen transparencia sobre a mina Doade e piden a intervención do Parlamento Europeo
Organizacións de toda Europa, lideradas por SOS Suído-Seixo, esixen a Bruxelas acceso á documentación sobre a explotación prevista, denunciando opacidade, privilexios empresariais e risco ambiental en zonas protexidas de Galiza.
Medio ambiente
Medio ambiente Que papel xoga Abanca no proxecto da celulosa de Altri en Galiza?
A sociedade público-privada Impulsa Galica, que cimentou os primeiros plans da multinacional papeleira e Greenalia está participada fundamentalmente pola Xunta e polo banco que xurdiu da desastrosa fusión das caixas de aforro galegas.
ferorus
30/10/2024 8:19

Como observador afastado aragonés, eu no posso acreditar que o reintegracionismo não seja mais popular na Galiza. Mas muito parecida é a nossa situação com o catalão. O nacionalismo espanhol odeia as línguas irmãs

0
0
ferorus
30/10/2024 8:22

*não posso

0
0
Galicia
Galicia Cuidar sin derechos: la lucha de las trabajadoras en las residencias privadas de Galicia salta a la huelga
Sin tiempo ni medios para ofrecer unos cuidados adecuados, alertan de una situación insostenible en los centros y denuncian la privatización de un servicio a costa del bienestar de las personas mayores y dependientes.
Francia
Francia Militantes e intelectuales exigen la absolución de Anasse Kazib, perseguido por su apoyo a Palestina
El Estado francés utiliza el tipo penal de “apología del terrorismo” para perseguir a personalidades y colectivos que han mostrado su apoyo a Palestina y su repulsa al genocidio cometido por Israel.
Gobierno de coalición
Gobierno de coalición Sánchez piensa en un paréntesis legislativo para evitar roces con los socios tras una semana explosiva
El choque bronco por el caso de las compras de balas israelíes a cargo de Grande Marlaska puso sobre la mesa como nunca la ruptura de la coalición, aunque nunca fue una opción.
Guinea-Bissau
Internacional Guinea-Bissau arranca una ola de represión tras el sabotaje popular de una mina de arena en un parque natural
Una acción liderada por las mujeres del pueblo de Varela provocó un incendio en la bomba de extracción de la mina de arena pesada. El Gobierno ha llevado a cabo la detención de 16 personas, entre las que se encuentran líderes locales.
Galicia
Galicia Vigo, A Coruña y Ourense compraron material policial a Israel por medio millón de euros en solo cuatro años
El alcalde ourensano, Gonzalo P. Jácome, adjudicó un contrato por 70.000 euros días después del siete de octubre. Abel Caballero firmó otro de más de 200.000 euros y la alcaldesa de A Coruña siguió la estela con un contrato de 170.000 euros.
Eventos
Evento Un Salto al periodismo desde el barrio: acompáñanos en un directo sobre periodismo situado
El Salto organiza un evento centrado en el potencial de los formatos sonoros para transmitir información veraz y fiable de forma cercana. Para hacer periodismo desde el barrio y barrio desde el periodismo.

Últimas

Gasto militar
Gasto militar ¿De dónde sacará Sánchez el dinero para financiar el incremento del gasto en defensa?
La promesa de aumentar las partidas presupuestarias militares necesita redirigir 10.471 millones de euros para alcanzar el 2% del PIB. Cumplirlo este año abre a su vez un grave problema para hacerlo en 2026.
Opinión
Opinión Las sáficas también somos trans, deseamos trans y amamos trans
Resulta irónico que a quienes tanto nos han cuestionado la identidad de “mujeres de verdad” en función de nuestra expresión de género o la vida que decidimos emprender no levantemos antorchas al ver el mismo odio operando con estrategias similares.
Opinión
Opinión IA: un proyecto tecnosupremacista
La pregunta que me hice hace algunos años fue: ¿Por qué existe un evidente interés en “crear la cuestión de la IA”, cuando las tecnologías y las lógicas que la componen están ya operativas desde hace años?
Salud
El precio justo La nueva ley del medicamento o estrategias para bajar el precio de los genéricos (que son caros)
En España pagamos de media un 10% más por los medicamentos genéricos que consumimos que en el resto de la UE. Al mismo tiempo, nuestro gasto farmacéutico ha aumentado un 33% en la última década.
Más noticias
Galicia
Galicia Más de 200 colectivos exigen transparencia sobre la mina Doade y piden la intervención del Parlamento Europeo
Organizaciones de toda Europa, lideradas por SOS Suído-Seixo, exigen a Bruselas acceso a la documentación sobre la explotación prevista, denunciando opacidad, privilegios empresariales y riesgo ambiental en zonas protegidas de Galicia.
Laboral
Laboral Tres nuevos días de huelga para parar el ERE en Bridgestone
Los sindicatos de forma unánime convocan paros los días 24, 25 y 26 de abril y no descartan ampliar las acciones de lucha para evitar el despido de 546 trabajadores.
There Is Alternative
There Is Alternative De redes, software, cacharritos y todo lo que no sea Elon Musk | TINA #1
Primer programa del podcast There Is Alternative de El Salto Radio sobre el lado oscuro de la tecnología y sus alternativas éticas y responsables.

Recomendadas

Turquía
Pinar Selek “Turquía sigue gobernada en base al miedo”
La profesora y socióloga turca, quien ha sufrido además de cárcel, un acoso judicial por 27 años, habla de la falta de independencia del poder judicial, del adoctrinamiento social y de la formación de la sociedad turca.
El Salvador
El Salvador El caso Ábrego García destapa el turbio pacto de Trump con Bukele
El joven salvadoreño no ha sido condenado ni en Estados Unidos ni en su país de origen, pero es uno de los cientos de personas con la vida pendiente de un hilo por las políticas de Trump y Bukele.