Corpos Incómodos
Sororidade universal

É preciso pensarmos a sororidade como umha maneira de entender o mundo. A co-responsibilidade que temos de criar a tribo, de eliminar violências opressivas, de dar apoio e aceitar o apoio quando for necessário, de nos opor ao egoísmo com humildade. Aprender, cuidar e escutar: valores que podemos levar do feminismo ao mundo inteiro.

Sororidad
'Sororidad', unha ilustración de Inma p.nitas*
21 jul 2020 19:38

Em certos contextos, o termo “sororidade” significa pouco mais que um apelo à guerra, a identificaçom de um grupo em conflito. Neste caso, o grupo —a banda, a turma— refere-se a nós, as mulheres: percebemos a necessidade de nos constituir em turma por causa das violências e violações que sufrimos. E chamamos sororidade à cola que aglutina esta turma.

Liberté, egalité, fraternité… com esta frase a Revolução francesa pretendeu mudar os valores sociais do mundo inteiro. Fraternité, umha palavra nascida da uniom de homens em irmandade pretendia incluir todes num mundo novo. Para variar, o masculino representava a universalidade. Ainda hoje é culturalmente impensável os indicadores femininos aspirarem a representar o mundo inteiro. Ainda hoje, ouvimos frases como “o homem moderno”, enquanto “a mulher moderna” nom pode incluir ninguém além das mulheres.

Se a sororidade nom é universal, o que é? Partidismo. E quem está incluída ou excluída? O transfeminismo mostra ao mundo que o nosso sistema ultra-simplificado de sexo-género falhou, pois nom contem toda a variedade humana.

Um momento chave no processo de descolonizaçom é quando pessoas dos centros imperialistas dam as costas à sua suposta superioridade cultural e começam, com humildade, a aprender das luitas anti-colonialistas, anti-racistas e indigenistas de diversas partes do mundo. Na Galiza, um bom exemplo, seria a inspiraçom que tomamos das luitas no Brazil, por termos a sorte de partilhar ligaçom linguística, como podemos ver nas batucadas feministas galegas, criadas a partir dos modelos abertos, radicais e anti-clasistas do Brasil.

É o momento para os homens que colonizárom o espaço da humanidade toda desfazerem a sua hegemonia social e, com total humildade, submeterem-se a novas inspirações. E o momento para aprender das mulheres e das pessoas nom-binárias. Intentárom colonizar todas nós com a sua fraternidade masculina. Nom podemos ficar só satisfeitas com unir-nos como defesa. A nossa sororidade deve aspirar à universalidade. Tem de ser um apelo a transformar o mundo inteiro, um conjunto de valores que visem derrubar os do machismo que nos governa: o egoísmo, a auto-justificaçom, a dominaçom, que nos impedem de escutar, empatizar e trivializar com humildade.

Ainda estamos colonizadas, mesmo nos feminismos. En assembleia ou em whatsapp, berramos, desprezamos, tentamos mostrar que controlamos tudo.

Se a sororidade nom é universal, o que é? Partidismo. E quem está incluída ou excluída? O transfeminismo mostra ao mundo que o nosso sistema ultra-simplificado de sexo-género falhou, pois nom contem toda a variedade humana. Neste caso nom estou a falar do sujeito do feminismo, embora também seja umha conversa necessária. Hoje falo de quem estaria incluída no grupo da sororidade se nom fosse universal. Obviamente mulheres trans sim —por serem mulheres—; mas as pessoas non-binárias e as marikas —vítimas também do mesmo machismo que combatemos no feminismo—, ficariam igualmente incluídas na turma? Caso contrário, para que é que serviria entóm esta turma? Estamos perante um paradigma simplificado e opressivo que excluiria pessoas nom-binárias. A que tipo de sororidade apela uma pessoa que vê uma marika agredida na rua e fecha os olhos porque “esse nom é o nosso problema”? Claro que é nosso. Quer somos um grupo fechado —um clube—, quer um intento de revolucionar o mundo com valores novos, de vencer as violências machistas de uma vez por todas. É como a diferença entre um sindicato que intenta sobreviver diminuindo direitos num sistema que precariza cada vez mais as vidas das trabalhadoras e um sindicato revolucionário que reconhece a necessidade de mudança radical.

É tempo de criarmos o universal. A única maneira de descolonizar completamente é ocupar o centro, o poder, o império: tornar-se referente. Os homens estám submetidos a padrões de controlo: têm que dominar, ter conhecimento de tudo. Nunca é possível admitir a ignorância. Um político que admite nom saber já perdeu; e umha política também —porque ainda estamos jogando com as suas regras. Eis os limites do partidismo: nom derrubar as regras do jogo. Esse é o feminismo das mulheres macho. O seu objetivo é criar mulheres que sejam indistinguíveis dos homens. Em vez de derrubar o padrom podre e corrupto do homem ideal (e, desgraçadamente, da mulher ideal), criam mulheres nessa podrémia.

Ainda estamos colonizadas, mesmo nos feminismos. En assembleia ou em whatsapp, berramos, desprezamos, tentamos mostrar que controlamos tudo. Há acoso —e nom sempre reparamos nisso porque o acoso nom é feito por um homem. Se a sororidade nom é um sistema de valores revolucionários, estes comportamentos seriam também sororidade por passar entre mulheres? Demasiadas vezes desleixamos os cuidados entre nós, desleixamos aprender a escutar radicalmente, desleixamos a empatia, porque nom sempre estamos cómodas com comportamentos demasiado “femininos”. Porque estamos colonizadas.

É preciso pensarmos a sororidade como umha maneira de entender o mundo, umha rede de comportamentos baseada nas ligações que correm entre todas e todes (e todos os animais também).

No entanto, temos a capacidade de mudar as cousas. Dentro dos nossos coletivos há umha força incrível, transformadora e radical —se a aceitarmos. É a sororidade universal. O mundo precisa da nossa revoluçom. A resposta à covid-19 em Espanha e em tantos outros estados governados por machos, foi bem de macho: militar. Nom permitiu a auto-organizaçom de umha sociedade em solidariedade. Exigiu obedecia e nom cultivou a empatia, a humildade, nem a capacidade de crescermos juntas, desde abaixo. Noutros países governados por mulheres, como Nova Zelândia, a resposta estivo incluiu empatia e sensibilidade. Mas, por via de regra, o mundo segue os antigos padrões.

É preciso pensarmos a sororidade como umha maneira de entender o mundo, umha rede de comportamentos baseada nas ligações que correm entre todas e todes (e todos os animais também). A co-responsibilidade que temos de criar a tribo, de eliminar violências opressivas, de dar apoio e aceitar o apoio quando for necessário, de nos opor ao egoísmo com humildade. Aprender, cuidar e escutar: valores que podemos levar do feminismo ao mundo inteiro.

O partidismo é compreensível. Somos violentadas e violadas e temos que nos defender. Sim, com certeza. Mas nom é suficiente com defendermo-nos fechando as fronteiras e os limites do que é a nossa turma e o que nom. Podemos ser muito mais. Podemos ser o mundo, se tivermos a coragem.

Informar de un error
Es necesario tener cuenta y acceder a ella para poder hacer envíos. Regístrate. Entra en tu cuenta.

Relacionadas

O Teleclube
O Teleclube 'A Rapaza da Agulla' inquieta a 'O Teleclube'
Magnus von Horn dirixe un conto de fadas para adultos cuberto dun branco e negro espantoso.
Contaminación
Contaminación Un municipio galego demanda á Xunta pola contaminación do encoro das Conchas
A veciñanza das Conchas, na comarca da Limia, leva á Xunta ao Tribunal Superior de Xustiza de Galicia pola contaminación provocada debido á cría intensiva de gando porcino e avícola.
AGANTRO
Agantro Tatuaxe: terapia e tendencia
Da marxinación á moda, o carácter simbólico e ritual da tatuaxe atópase actualmente erosionado polas dinámicas capitalistas.
Comunidad de Madrid
Instituto del Menor La Comunidad de Madrid arranca una hija a una mujer peruana que ha denunciado violencia de género
La madre afectada, Pamela L.C., considera que ha habido un componente racista en el arrancamiento. La mujer no obtuvo ninguna información sobre el paradero de su hija hasta la citación en el Instituto Madrileño del Menor una semana después del parto.
Almería
Medio ambiente La demolición del Algarrobico será “este mismo año”
El Gobierno ha publicado en el BOE el proceso de expropiación de la parcela. La ministra de Hacienda asegura que el derribo será “con o sin la colaboración de la Junta de Andalucía”.
León
Accidentes laborales Cuatro mil personas despiden en Villablino a los mineros muertos
Los sindicatos se concentran en Oviedo y exigen al Principado que se persone como acusación particular en el proceso penal. En 2023, un vecino alertó de las condiciones de inseguridad bajo las que operaba la mina.
Desempleo
Empleo El paro en mujeres marca un mínimo histórico desde 2008
El desempleo se ha reducido en 146.865 personas en los últimos 12 meses, de los que casi 79.000 son mujeres. La tasa de población activa femenina llega al 47%.

Últimas

Universidad
Educación El Gobierno anuncia el endurecimiento de la normativa para la creación de universidades privadas
El Consejo de Ministros aprueba la tramitación urgente de una modificación en la legislación que regula la creación de centros privados de enseñanzas universitarias.
Formación El Salto
Formación Masculinidades neoliberales: afectos de odio, cultura bro y extrema derecha
Abiertas las inscripciones para esta nueva propuesta de formación online, que abordará la relación entre el fortalecimiento de las derechas, el avance de un neoliberalismo desbocado y la aparición de culturas de género cada vez más conservadoras.
Estados Unidos
Estados Unidos Estudiantes de Columbia luchan contra las amenazas de deportación
Los estudiantes de Columbia se unen mientras el ICE y el Departamento de Policía de Nueva York (NYPD) atacan el activismo palestino. “[Columbia] está dispuesta a concederle al gobierno de Trump todo lo que quiera”, declara un estudiante a Mondoweiss.
Ecuador
Hacia el 13 de abril Acuerdo histórico de la izquierda y el movimiento indígena para la segunda vuelta de las elecciones en Ecuador
La alianza entre la Revolución Ciudadana y Pachakutik, el brazo político del movimiento indígena, no se producía desde 2006 y podría ser determinante para la victoria de la candidata correísta, Luisa González, en las elecciones del 13 de abril.
València
València La turistificación masiva asfixia los distritos valencianos de Camins al Grau y Algirós
El vecindario se organiza en una plataforma para luchar por el derecho a la vivienda en dos de los distritos con mayor presión turística de la capital del Turia.

Recomendadas

Asturias
Asturias Cinco muertos en la mina de Zarréu: demasiadas preguntas sin respuesta
El accidente más grave en la minería asturiana en casi tres décadas vuelve a poner en cuestión el sistema de permisos, controles y ayudas públicas para minas en proceso de reconversión.
Violencia obstétrica
Violencia obstétrica Helena Eyimi, matrona: “El parto es un misterio y queremos controlarlo todo, pero no podemos”
Consentimiento informado, trato personalizado y libertad de elección. Para Helena Eyimi (Madrid, 1975) , matrona asesora de Naciones Unidas, es fundamental que las mujeres se sitúen en el centro de las decisiones durante el parto y esos tres conceptos son clave.
Culturas
Culturas Lorca fue también un visionario que intuyó los vínculos entre la música negra y el flamenco
La 24ª edición del Festival de Flamenco de Nueva York abrió un espacio de debate para analizar el impacto que tuvo el movimiento cultural del Renacimiento de Harlem en la obra del poeta granadino.