Opinión
Necropolítica em três atos

Como podemos entender as formas de continuidade que persistiram da ditadura para a dita democracia e se veem exacerbadas nas políticas da morte na pandemia?

Fosa común Brasil 4
Michael Dantas Enterros de pessoas de baixa renda em vala comum no cemitério N.S. Aparecida, em Manaus. AFP. Brasil de Fato.
Agradecementos: Jakson Soares
28 oct 2020 09:05

Sob o título “Brasil: Quão caótico é este governo?” o programa alemão “Conflict Zone”, entrevistou o vice-presidente do Brasil (um general do exército) Mourão que classificou um dos mais notórios torturadores do regime, Carlos Brilhante Ustra, como um "homem de honra e que respeitava os direitos humanos de seus subordinados”. O agente ao que faz referência era peça chave da engrenagem repressiva, comandou um centro clandestino de detenção em São Paulo e foi também homenageado inúmeras vezes pelo atual presidente da república.

Essa é mais uma das inúmeras notícias que nos escandaliza sobre o Brasil. Mais de 150.000 mortos pela pandemia da COVID-19. Perda de quase 22% do Pantanal, um dos ecossistemas mais ricos do mundo em biodiversidade de flora e fauna. Incêndios criminosos na Amazônia. Reforma administrativa que afetará principalmente funcionários de base como professoras, enfermeiras, assistentes sociais. Privatizações e aumento de mais de 20% na violência policial durante a pandemia em comparação ao ano de 2019, que já vinha com números alarmantes. São cenas de uma mesma tragédia orquestrada pelo governo de Jair Bolsonaro e seus apoiadores que dificulta a imaginação de outros futuros possíveis a qualquer pessoa com mínimo de humanidade.

Nos cemitérios da cidade de São Paulo tem se denunciado a sobrecarga e a falta de equipamentos de proteção para os funcionários. No mês de julho, quatro sepultadores já haviam falecido por COVID-19. No mesmo mês, o atual prefeito que concorre este ano para eleições municipais, numa política neoliberal de privatização dos serviços e instituições da cidade, realiza a concessão dos 22 cemitérios públicos para empresas privadas. Movimentos sociais e pesquisadores denunciam que estamos ante a uma política onde negacionismo e omissão se tornam políticas do governo. Em outras palavras, a não-ação é uma decisão – fazer ou deixar morrer como expressão última da soberania.

Como podemos entender as formas de continuidade que persistiram da ditadura para a dita democracia e se veem exacerbadas nas políticas da morte na pandemia? Dialogando com as análises propostas pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, a necropolítica, enquanto política do deixar morrer, se vê impressa nas lógicas de omissão estatal, refletindo-se no tratamento dos corpos e nas formas de desaparecer contemporâneas. A gestão burocrática da morte dada pelas instituições responsáveis por identificar e controlar esses corpos e seus destinos é deliberadamente negligente. Nessa distribuição desigual de direitos em vida e em morte é onde o desaparecimento por omissão tem ocorrido e dificultado qualquer possibilidade de restituição às famílias.

Movimentos sociais e pesquisadores denunciam que estamos ante a uma política onde negacionismo e omissão se tornam políticas do governo. Em outras palavras, a não-ação é uma decisão – fazer ou deixar morrer como expressão última da soberania.

No contexto da pandemia, como buscar a uma pessoa desaparecida nessas grandes cidades? Como seguir o caminho da morte, quando os acessos às instituições públicas se veem restringidos e muitas delas colapsadas pela alta demanda?

No Brasil pré-covid, um dos casos mais conhecidos com grande repercussão midiática em 2015 fora a história de um idoso que passou mal na rua, foi levado ao hospital por policiais militares e faleceu dias depois. A morte não foi informada à família. O mais dramático é que a filha, sabendo que o pai tinha problemas de memória, bordava o nome dele e seis telefones para contato na roupa do homem, uma medida para evitar que o idoso não se perdesse na rua. Ele foi enterrado como “desconhecido”, mas não antes de ter seu corpo utilizado para aulas de anatomia na Faculdade de Medicina.

Casos como este, são recorrentes ainda hoje em cidades como São Paulo, região sudeste do Brasil. A não comunicação e cruzamento de informações entre instituições jogam toda a responsabilidade para as famílias em integrar dados, buscar informações, checar nas várias delegacias policiais, hospitais e necrotérios por seu parente. Segundo Vendramini (2018), para uma família ter certeza de que o parente não está morto, esta precisa visitar as 72 unidades do Instituto Médico Legal (IML) do estado de São Paulo, pois os dados da Polícia Civil, Polícia Militar, o Serviço de Verificação de Óbito, Serviço Funerário e o IML não são compartilhados entre si.

Esta prática, que dificulta o cruzamento de informações e acaba por desaparecer com os corpos, não surge recentemente no Brasil. Nos porões da última ditadura militar (1964-1985), presos políticos eram assassinados e o próprio sistema dava conta de produzir laudos de morte falsos. Afirmavam que estas ocorreram durante confronto com a polícia, e, no laudo de necropsia, nunca havia qualquer menção a tortura e execução como circunstância da morte. Uma estratégia bastante conhecida nas ditaduras latino-americanas e em tantos lugares do mundo. As mortes e o ocultamento de corpos de militantes que lutavam contra a repressão, entram em um sistema de produção de papéis - como laudos, declarações, fotografias, que já desaparecia com pessoas, que, para o Estado, não eram “importantes”. As tais vidas “não enlutadas”, para utilizar o termo de Judith Butler em seu livro ´Vida Precaria´ (2006), eram vidas de negros, pobres, moradores de rua, pessoas internas de hospitais psiquiátricos —a ditadura foi o período onde houve a maior população ingressada em hospitais psiquiátricos— que eram destituídas de sua identidade ao longo da sua passagem pelas instituições estatais de segurança pública e no próprio serviço municipal funerário nos anos da ditadura. O que a repressão faz é simplesmente utilizar essa maquinaria de desaparecer e incluir os opositores do regime.

Esta prática, que dificulta o cruzamento de informações e acaba por desaparecer com os corpos, não surge recentemente no Brasil. Nos porões da última ditadura militar (1964-1985), presos políticos eram assassinados e o próprio sistema dava conta de produzir laudos de morte falsos.

Como lembra Rita Segato em seu livro `La Guerra contra las Mujeres´, o “Estado en Latinoamérica es una reproducción del esquema y relación colonial en su arquitectura y estructuración de las instituciones y su racionalidad en la burocracia”. Nesta perspectiva, o conceito de raça e racismo é central. O que marca estes corpos através das gerações, em especial na cidadania dada na morte? Se “raça” em termos biológicos é uma ficção, concordo com o pesquisador Jaime Alves em um artigo publicado na revista Antípode em 2014 na perspectiva em que “o mesmo não pode ser dito às implicações materiais nas vidas das populações racializadas”. Raça, como realidade socialmente construída, estrutura as relações sociais e define não apenas o acesso diferencial à cidadania, mas também ao direito básico de viver. Enquanto projeto fundante da modernidade e base estruturante do capitalismo, o racismo foi utilizado enquanto tecnologia, permitindo o exercício do biopoder e o direito soberano de poder matar. Não à toa, autoras feministas negras como Keeanga-Yamahtta Taylor, Ruth Gilmore, Angela Davis entre tantas outras têm denominado capitalismo racista patriarcal para evidenciar às formas estruturantes das desigualdades nesse sistema.

Quais são as raízes históricas no aparelhamento das instituições e formas de lidar com diferentes categorias de cidadãos que temos como herança no presente? Nesse caso me refiro às diferentes formas de desaparecer com corpos que se vê atualmente fundamentadas, a partir de uma herança de tecnologias e aparelhamentos institucionais que vem da ditadura e que, no processo da redemocratização e transição, não foram repensadas no âmbito das instituições que antes faziam parte do aparato repressivo. Quando falamos de formas diferentes de tratamento no que se refere a quem tem mais direitos, não há como não pensar nas raízes históricas brasileiras que entrecruzam raça, classe e gênero especialmente no tratamento desigual dado na morte aos casos de “desconhecidos”. 

Fosa común Brasil 1
O cemitério Dom Bosco em São Paulo recebe a maior quantidade de pessoas enterradas como “desconhecidos”. Márcia Hattori

O desaparecimento em três atos:

Ato 1: A vala clandestina da ditadura com mais de 1500 corpos

Uma vala clandestina construída nos anos de 1970 durante a ditadura militar ocultou mais de 1500 corpos, entre dissidentes políticos torturados e mortos, além de inúmeras pessoas enterradas como desconhecidas e vítimas de esquadrões da morte. Soma-se a isso, um número, de talvez, milhares de crianças que haviam falecido pela epidemia de meningite que o governo militar buscava esconder os mortos e a gravidade da situação ao resto da população.

Fosa común Brasil 2
Abertura da vala clandestina em 1990. Em setembro deste ano, inúmeros eventos debateram os 30 anos deste caso emblemático. Os trabalhos de identificação ainda não estão concluídos. Créditos: O Globo.

Ato 2: Privatização de cemitérios e a perda de identidades.

Em 2018, um ossário coletivo em um cemitério de São Paulo está totalmente ocupado e a sugestão é a de cremação desses remanescentes humanos ósseos. Mas quem e quantas são? Essas pessoas que tiveram como destino esse ossário coletivo perderam suas identidades na burocracia da morte. Não se sabe quantos estão ali e nem quem são. Em julho daquele ano, quando fui realizar a pesquisa para a minha tese, o contexto deste ossário se inseria no interesse da prefeitura de São Paulo em privatizar serviços e instituições, tendo sido criado inclusive uma Secretaria municipal de Desestatização. Os cemitérios estavam no meio disso. Para que houvesse interesse empresarial, era necessário possibilitar novos espaços para venda de jazigos e por isso, o interesse na cremação.

Fosa común Brasil 3
Ossário com sua capacidade máxima sem qualquer identificação. Cemitério Quarta Parada. Márcia Hattori

Um ato religioso no cemitério ocorre contra a cremação, junto a uma manifestação que acontecia no centro da cidade. Familiares de pessoas desaparecidas se unem a familiares de desaparecidos da última ditadura na Praça da Sé, muitas destas eram mulheres que tiveram que fazer, elas mesmas, esse caminho por inúmeras instituições para buscar a seus entes queridos. Estão ali, enfrentando algo que simplesmente não se vê, não tem cara nem lugar. Essa maquinaria dispersa como dizia Mark Fisher em seu livro Realismo Capitalista. Essas pessoas que sabem bem o que é o desaparecimento e a dúvida que seu ente querido pode estar em qualquer lugar. Estão ali, em solidariedade para aqueles remanescentes humanos que teriam como destino a cremação. Algo ao redor de 1500 a 1600 pessoas inumadas, diziam, macabra coincidência de histórias que se repetem de uma vala a um ossário.

Ato 3: As valas da pandemia

Divulgado em inúmeros lugares do mundo, a imagem da construção de valas comuns durante a pandemia, como a do cemitério Nossa Senhora Aparecida na cidade de Manaus, chocava. Com o aumento dos casos positivos de COVID-19, o governo brasileiro, assim como diferentes estados do mundo, propuseram ações para a gestão dos corpos falecidos pela doença e, algumas medidas se relacionavam à rápida inumação, ou outras formas como a cremação, para tentar minimizar o risco de contaminação.

Em um contexto de confinamento, onde as pessoas não podem estar na rua, o número de corpos não reclamados pode se tornar muito mais alto. Se estes são cremados ou os documentos necessários não são produzidos, a possibilidade de desaparecidos, cujos remanescentes humanos serão praticamente impossíveis de rastrear, será imenso. Nessa situação de emergência sanitária, a COVID-19 aumenta exponencialmente a números indecifráveis as grandes fraturas e fissuras existentes nesse sistema.

Fosa común Brasil 4
Enterros de pessoas de baixa renda em vala comum no cemitério N.S. Aparecida, em Manaus. AFP. Brasil de Fato. Michael Dantas

Temos permitido discursos de ódio, apologia à tortura e a torturadores por parte de políticos e a marginalização de tantos grupos. “Brasil: Quão caótico é este governo?” perguntava o programa alemão. Fazer frente ao caos como forma de governo, frear o aumento da intolerância, do negacionismo e revisionismo tem sido a luta cotidiana de inúmeros grupos. Está em jogo, na disputa das eleições municipais que ocorrerão agora em novembro em todas as cidades brasileiras, a esperança e o medo dos possíveis futuros.

Cargando valoraciones...
Comentar
Informar de un error
Es necesario tener cuenta y acceder a ella para poder hacer envíos. Regístrate. Entra en tu cuenta.

Relacionadas

Cargando relacionadas...

Málaga
Málaga, el punto de inversión para los fondos israelíes a pie de playa
Diversos fondos de origen israelí están presentes en proyectos urbanísticos de Málaga influyendo en la turistificación de la provincia mientras se enriquecen con la ocupación de Palestina
Región de Murcia
Belinda Ntutumu
“La violencia racista no parará mientras Vox pueda presentarse a elecciones”
La cofundadora de Afromurcia señala a los discursos de Vox como causantes de la violencia racista de Torre Pacheco y califica de “laxa” la respuesta institucional: “Deberían haber impedido que los disturbios continuaran durante tres días”.
Palestina
La coordinadora europea contra el antisemitismo dice que los informes sobre la hambruna en Gaza “son rumores”
Katharina von Schnurbein es la encargada de proteger a Israel en las discusiones que esta semana tienen lugar sobre el acuerdo preferencial que la UE tiene con el Estado sionista.
Palestina
Más de mil caras conocidas de la cultura exigen al Gobierno que cese la venta de armas a Israel
Una carta dirigida al presidente del Gobierno por más de mil profesionales de la cultura considera que “mantener los negocios armamentísticos con Israel es complicidad activa con el genocidio”.
El Salto n.79
La celulosa o la vida: periodismo situado y lucha social para frenar un ecocidio
El jueves 17 de julio os esperamos en el CS “A Nubeira” de Vigo para presentar el último número de la revista El Salto.
Castellón
El BDS Castelló pide al FIB que facilite la devolución de entradas por su vinculación con KKR
El BDS y la Plataforma Castelló per Palestina piden al festival que se desvincule del fondo y que adopte un compromiso público para incluir el respeto por los derechos humanos palestinos en sus protocolos éticos.
Opinión
Torre Pacheco: el síntoma de un sistema agroexportador podrido
Se podría hacer un mapa de la llamada conflictividad social migrante y coincidiría, casi matemáticamente, con el de los polos agroexportadores.
Comunidad El Salto
El Salto estrena nueva página: una web como una casa
Después de un año de trabajo, lanzamos en julio la nueva web de El Salto, con un nuevo diseño, pero, sobre todo, con una nueva Zona Socias llena de ventajas para las personas que hacen posible El Salto con su apoyo.
Violencia machista
El 30% de los feminicidios íntimos se producen en verano pero no es el calor, es el patriarcado
El Ministerio de Igualdad convocó la semana pasada un comité de crisis tras los nueve asesinatos de mujeres por sus parejas o exparejas en junio. ¿Qué pistas da este dato sobre cómo orientar las políticas públicas?

Últimas

Opinión
Cuando una huertana llora: saquen sus racistas manos de nuestra región
Me aterra pensar que lo que ha sucedido en Torre Pacheco es el comienzo de algo peor, que es el primer síntoma de una enfermedad que hemos permitido que campe a sus anchas por nuestras regiones.
Análisis
La crisis por el ‘caso Cerdán’ empuja al PP y Vox por encima de los 200 escaños
El último barómetro del Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS) señala una caída del PSOE, que apenas aprovechan los partidos a su izquierda, y un aumento de votos en la mayoría de PP y Vox
Cómic
Gotham como estado mental
Que Batman es el personaje del cómic de superhéroes más icónico del último medio siglo es algo a lo que también contribuye una iconografía del mal como forma urbana a la que responde la ciudad de Gotham, un estado mental en sí mismo.
Opinión
Día Internacional de las Personas No Binarias: no pedimos nuevos derechos, exigimos los que tenemos
Varios tratados internacionales permiten una interpretación favorable a reconocer a las personas no binarias. El Estado español incumple su deber de protección de estas personas.
Estados Unidos
Donald Trump amenaza a la Unión Europea con aranceles del 30% a sus productos a partir de agosto
Ursula von der Leyen ha respondido al anuncio de Trump insistiendo en la vía del diálogo pero anunciando que “tomarán todas las medidas necesarias para salvaguardar" sus intereses
Más noticias
Murcia
Colectivos antirracistas denuncian la impunidad de la ultraderecha en Torre Pacheco, donde sigue la violencia
En la localidad murciana se ha producido una segunda jornada de violencia racista, ultraderechistas de otros territorios se han unido a las “patrullas” para “limpiar España”.
Economía social y solidaria
¿Dónde está la juventud en la Economía Social y Solidaria? Un relevo que se teje entre retos y oportunidades
Cada vez más jóvenes se acercan buscando formas de vida y empleos coherentes con sus valores. Sin embargo, su participación sigue enfrentando barreras: precariedad, estructuras poco flexibles y falta de relevo real.
Río Arriba
Javier Guzmán: “Desde la izquierda falta la visión de que el derecho a la alimentación es un tema básico”
Nueva entrevista de Río Arriba en formato podcast donde hablamos de soberanía alimentaria, políticas públicas relacionadas con la alimentación, tratados de libre comercio y sus efectos sobre la agricultura, ganadería y alimentación.

Recomendadas

Feminismos
Patricia Reguero
“Mis relatos están escritos al lado de otras, arropada por la escucha de otras”
Patricia Reguero Ríos, redactora de El Salto, presenta ‘Todo lo que pasó el día que me mordió mi hija’ (La Imprenta, 2025), un conjunto de relatos que desde lo individual apelan a lo colectivo y que se devoran con una mezcla entre ansiedad y placer.
LGTBIAQ+
Mana Muscarsel
“La amistad da más juego para salir de la lógica de la familia porque tiene menos reglas"
La autora y psicóloga argentina pone en valor la amistad frente a los modelos relacionales centrados en la pareja y la familia. Tampoco le interesa la familia elegida: “Marca una línea muy clara entre lo que pertenece y lo que no”.
Barcelona
El reciclaje invisible: la relación entre la chatarra y la ciudad de Barcelona
La red de reciclaje en Barcelona es de una complejidad casi hermética, más aún si hablamos de los recicladores informales, más conocidos como chatarreros. Salimos a la calle a entender una economía sumergida que está a la vista de todos.
Medios de comunicación
El futuro del periodismo no lo está escribiendo una máquina
El periodista Pablo Mancini, estratega dentro de The Washington Post, defiende una profesión aquejada de múltiples problemas. El primero, y más crucial, la deserción de miles de personas que ya no quieren estar informadas.
Comentarios

Para comentar en este artículo tienes que estar registrado. Si ya tienes una cuenta, inicia sesión. Si todavía no la tienes, puedes crear una aquí en dos minutos sin coste ni números de cuenta.

Si eres socio/a puedes comentar sin moderación previa y valorar comentarios. El resto de comentarios son moderados y aprobados por la Redacción de El Salto. Para comentar sin moderación, ¡suscríbete!

Cargando comentarios...